quinta-feira, 12 de abril de 2012

ASPECTOS POLÍTICO-SOCIAIS DO TEMPO DE PARMÉNIDES

Os séculos VII e VI a.C. na Grécia

Nos séculos VII e VI a.C., a Grécia passou por uma profunda crise política e social causada pela transformação das culturas agrícolas, pelo desenvolvimento acelerado do artesanato e da pequena indústria e pelo intercâmbio com os povos da Ásia Menor. Efectivamente, o solo era infértil para cereais, apesar de ser rico para a vinha e a oliveira, o que se traduziu num fraco rendimento das colheitas; isto, aliado à inoperância dos instrumentos técnicos, conduziram a região à miséria e ao endividamento dos zeugitas (pequenos agricultores) face aos eupátridas (aristocratas). Assim, os zeugitas transformaram-se em escravos nas suas terras e os que evitaram esse destino emigraram ou dirigiram-se para as cidades em transformação, alimentando a indústria, fazendo parte da infantaria, produzindo mais produtos com mais qualidade e abrindo um maior mercado de consumo. Podemos dizer que foi graças à fuga dos zeugitas que as cidades atingiram o auge do seu desenvolvimento e que a Filosofia é fruto destas transformações.
No final do século VII, podemos encontrar uma Grécia com cidades fortemente consolidadas e movida por uma nova força social: os comerciantes; estes começaram a disputar o poder aos grandes senhores do campo, que também eram senhores da cidade. A economia hegemónica mercantil vence, portanto, a economia de subsistência agrária e as cidades são criadas com base  num novo ordenamento geométrico. Generaliza-se a moeda e o alfabeto, as leis passam a ser escritas (antes bastava a palavra de honra) e a razão passa a ser usada como instrumento de análise e de reflexão.

Primeira metade do século VI a.C.

Em 589 a.C. Sólon sobe ao poder, desenvolvendo e aplicando um conjunto de reformas. Estas tinham dois objectivos: primeiro, a desagregação dos antigos interesses dos eupátridas e, em segundo. a abertura aos interesses sociais emergentes dos novos habitantes da cidade. Assim, as medidas de Sólon são mais adequadas à nova vida mercantil e à nova racionalidade, passarei a citar: a distribuição dos bens herdados a todos os filhos, a abolição da escravatura, a desvalorização da moeda, o pagamento do juro das dívidas pelo seu total, a proibição de cortar ou danificar oliveiras e uma estrutura social assente na riqueza e não na genealogia. A Boulé, por seu turno, torna-se a sede do verdadeiro poder político.


ÓRGÃO POLÍTICO
GRUPO SOCIAL
Arcontado
Eupátridas
Boulé
Cavaleiros
Zeugitas
Ecclesia
Tetas
Cavaleiros
Zeugitas

As reformas de Sólon permitiram a emergência de uma forte classe média grega, dotada de um racionalismo geométrico assente na produção e comercialização de bens, adestrada no cálculo e que produz leis adequadas aos seus interesses.

Segunda metade do século VI a.C.

As medidas de Sólon, como foi visto, criaram uma ruptura entre as ancestrais instituições históricas homéricas e as instituições urbanas em vez de as contemporizarem. Sólon acabaria por ser exilado e sobe ao poder, em 561 a.C., o tirano Pisístrato; este vai criar um novo fluxo social a todos os grupos que estão menos ligados à posse de terra e mais ligados à comercialização dos seus produtos, igualdade na acumulação de riqueza e a centralização do Estado. As medias de Pisístrato, citarei igualmente, são: a imposição da "Coruja" na cunhagem da moeda, equivalência entre o médimno e o dracma (quem não pode pagar com dinheiro paga com cereais), incentivo ao cultivo da vinha e da oliveira, lançamento de bases estratégicas do comércio grego mediterrânico, reorganização da cavalaria do exercito e a passagem a escrito dos poemas homéricos "Odisseia" e "Ilíada". Tudo isto vai levar a um alto desenvolvimento das zonas urbanas ligadas ao comércio e às trocas cambiais; contudo, vai criar também uma alta oposição dos sectores mais vinculados às tradições ancestrais e à posse de grandes rebanhos e de grandes propriedades fundiária: com efeito, vê-se uma rivalidade entre o Arcontado e a Boulé, visto que o Arcontado travava frequentemente as leis propostas pela Boulé.
Em 508 a.C. Clístenes chega ao poder e ficaria para a História como o "pai" da democracia grega, visto que despoletou um conjunto de reformas de âmbito social e político sem intervir nas estruturas económicas da sociedade. Neste sentido criou-se o cargo de Estratego, nomeado pela Boulé e que retira o poder de comando militar ao arconte polemarco, até então supremo chefe militar da cidade. A ordem das antigas "famílias" é convertida em cem circunscrições territoriais chamadas "Demoi" que, por sua vez, se agrupavam em trinta "Títrias"; estas agrupavam-se em dez "Tribos"com representação directa nos órgãos do Estado. Finalmente, o nome do cidadão passava a ser designado pelo seu nome próprio e mais o nome do "Demoi" onde tinha nascido, o que se traduziu numa desvalorização da genealogia. Assim, com as reformas de Clístenes, a cidade é reorganizada na sua totalidade.
As reformas de Clístenes deram-se em dois momentos temporais: numa primeira fase; lutou-se pela hegemonia do poder político entre os eupátridas e o novo grupo social urbano; já numa segunda fase houve um favorecimento do grupo social urbano através da conquista do poder militar para os estrategos.


1.ª FASE
Igual a nível de poder
Arcontado
Boulé
Poder inferior
Ecclesia

 
2.ª FASE
Igual a nível de poder
Boulé
Estrategos
Poder inferior
Ecclesia
Poder simbólico
Arcontado

Em finais do século VI a.C. está desenhada a nova forma de organização do Estado, que assenta portanto num poder económico mercantilista, com novos grupos sociais urbanos, expansão marítima nos negócios, de estrutura mental racionalista, com prevalência do direito e do alfabeto escritos e com moeda a circular. Neste âmbito, a Filosofia inicia-se como substituto do mito e da magia enquanto antigas formas dominantes de pensamento.

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